Realismo ou Verossimilhança?
- katherinehavegreen
- 16 de fev. de 2016
- 5 min de leitura
Sei que demorei mais do que tinha prometido, mas aqui estou. Eu não sabia sobre o que escrever, mas estava decidida a escrever ao menos uma coisa hoje. Então, há mais ou menos uns 15 segundos, me ocorreu essa ideia.
Todo mundo que escreve fantasia já passou por essa situação. Você está contando sobre a sua história para alguém e diz que tenta trabalhar bastante a verossimilhança, e a pessoa responde: 'ah, mas se é uma história de fantasia ou ficção, não tem que ser realista'.
Então, aqui vai: REALISMO e VEROSSIMILHANÇA NÃO SÃO A MESMA COISA.
Da forma que entendo - que pode não ser 100% correta - 'realismo' é algo que se assemelha ou busca a semelhança com a realidade. Por exemplo, histórias do cotidiano, com personagens ordinários, comuns, que muitas vezes nos fazem lembrar de nós mesmos. Esse tipo de coisa destoa totalmente do que se busca com o significado de 'fantasia'.
Mas verossimilhança é algo um pouco diferente. De forma simplificada, esse termo serve para designar algo COERENTE - nesse caso, um texto lógico, que faz sentido, com ideias conectadas e condizentes entre si.
Talvez realismo seja um elemento opcional, mas fica a dica: toda história precisa de verossimilhança.
Alguns de vocês devem estar se perguntando: 'Ah, então todos os mundos são verossímeis? Até os mais estranhos, como o País das Maravilhas?'
Sim, esse também. Eu nunca li o livro inteiro, mas posso dizer com firmeza que sim, o País das Maravilhas é verossímil.

Pode parecer estranho, mas na verdade é bem simples. Embora o que é lógico lá não seja a mesma coisa que o lógico aqui, ainda assim É lógica. Mesmo que não funcione como o nosso mundo, esse país fictício existe e funciona de acordo com as próprias regras, exclusivas de lá. Desde que um mundo possua seu próprio conjunto de regras, leis da física ou elementos de ordem semelhante e sempre se mantenha fiel a ele, esse mundo pode ser considerado um mundo verossímil.
Quer um outro exemplo? Peter Pan. Se você parar para pensar, um lugar onde pó mágico de fada e pensamentos felizes te fazem voar pode parecer estranho.
MAS.
Você já parou para pensar nisso ENQUANTO assistia? Você já interrompeu a fala do malvado Capitão Gancho para comentar como era ridículo que um pozinho mágico dourado desse ao Peter Pan uma 'vantagem injusta' na luta? Ou então riu da ideia de sereias, índios e piratas vivendo naquela ilha, cada um no seu canto, como se fosse normal? (No livro eles não ficam exatamente 'cada um no seu canto', mas vou citar o desenho como exemplo.)
Então, é isso o que a verossimilhança trás para o seu mundo fictício. Conquanto tudo esteja em seu devido lugar, as pessoas poderão ler sua história sem se preocupar com os detalhes irreais e com o que é ou não é 'normal', porque, para ele, tudo o que você diz simplesmente faz tanto sentido e é tão coerente que não há o que contestar.
Eu estou escrevendo uma história de aventura fantástica. Não é realista, mas eu procuro sempre manter uma história verossímil, onde uma pessoa pode ler e dizer 'e não é que é possível?'. Por exemplo, meu personagem acabou de chegar em um mundo totalmente diferente. Ao invés de aceitar tudo e dizer coisas como 'ah, que legal, gostei daqui', ele fica confuso, porque, afinal, ele não entende nada do que está acontecendo, certo? Além disso, algumas pessoas costumam trabalhar com dimensões paralelas que falam a mesma língua. Eu optei por não fazer isso, porque, para mim, um lugar com uma cultura tão diferente da nossa não tem como falar justamente a mesma língua do meu país e, portanto, do protagonista. Culturas diferentes têm línguas diferentes. Isso até é opcional - veja Nárnia, por exemplo. Todos lá falam inglês, assim como os Quatro Reis - mas eu preferi fazer assim. Porém, um obstáculo: como eu criaria uma nova língua inteira só para esse Domo se tenho tantos diferentes para trabalhar? Como faria para o protagonista compreendê-la? E quanto aos leitores?
É aí que surge a maior dificuldade de um escritor que procura trazer mais lógica para um trabalho de fantasia. Certamente há várias maneiras para se passar por esse obstáculo, mas não deixa de ser uma dificuldade significativa.
Em um mundo onde existam várias forma de magia, você poderia simplesmente inventar um feitiço que faça com que as pessoas possam se entender.
'Ah, mas aí não vai ficar forçado, perder a tal 'verossimilhança' de que você fica falando?' Certamente que não! É aí que entram os elementos individuais de cada mundo e de cada escritor. Se você criou um mundo onde magia é perfeitamente normal, seria lógico que existisse um encantamento assim. Talvez não seja realista, e pode até parecer um pouco forçado se não for trabalhado direito, mas não é inverossímil.
No meu mundo, isso não acontece (minha explicação é outra... talvez até um pouco técnica demais ^^'), mas a ideia é basicamente essa. Quando estiver bolando a história, procure explorar cada detalhe até que tudo faça perfeito sentido, e finalmente possa se juntar em um único mundo fantástico om sua própria história e 'modo de ser'.
Mas verossimilhança não está presente somente nos mundos e em suas leis, é claro. O comportamento dos personagens também tem que possuir alguma verossimilhança.
Por exemplo, estamos cansados de ver histórias de nerds deslocadas, esportistas populares e patricinhas metidas. É um exemplo claro de um clásico clichê.
Você já leu uma história onde a nerd é sempre zoada por ser feia, tira os óculos e de repente é a garota mais popular da escola? Ou aquelas histórias onde a atriz designada para 'interpretar' a personagem supostamente feia é uma top model mundialmente renomada? Ou, mudando de exemplo: e as clássicas histórias da menina boazinha e o 'bad boy'? Sou só eu que sinto minha cabeça girar quando o personagem mau e propositalmente cruel, às vezes até violento, magicamente se torna o Príncipe Encantado quando se apaixona pela mocinha sem sal? Esse tipo de coisa é o que podemos citar como 'inverossimilhança na personalidade'.
Por experiência pessoal, eu sempre procuro dar explicações puramente científicas para as coisas. Luzes mágicas, manipulação de elementos, uma pessoa que entra em uma dimensão paralela e magicamente entende tudo o que as pessoas falam... tudo, de uma ponta a outra. Apenas duas coisas permanecem sem explicação ao longo da história, (espero que respeitem o esforço que faço ao contar para vocês dos únicos detalhes que podem ser contestados de todo o meu mundo cuidadosamente planejado XD) que são como as pessoas podem Viajar entre as dimensões - no meu caso, os Domos - e um fenômeno da Velha Floresta, que ocorre toda lua cheia. Porém, além de ambos poderem ser explicados com um pouco de esforço (eu poderia, por exemplo, dizer que há uma substância, um plasto específico, nas árvores que reage unicamente com uma energia transmitida somente pela luz da lua; ou que, como a força primordial da Luz criou todas as dimensões, é como se elas fossem parte dela, e, portanto, podem ser controladas por ela, assim como as entidades suas criações), o resto do meu universo é tão bem e detalhadamente explicado que, para todos os meus leitores, esses dois pontos passaram totalmente batidos, ao passo em que eles estão sempre destacando meu cuidado surpreendente ao pensar em cada detalhe com zelo admirável.
Porém, isso não é necessariamente o que você deve fazer. Como eu disse, cada escritor tem seu mundo próprio. Em um lugar onde tudo é magia, é perfeitamente razoável naturalizá-la e atribuir qualquer coisa a ela. Eu posso ter feito diferente e tentando criar uma explicação para ela, mas isso não é obrigatório nem 'melhor' de forma alguma. Cada um é cada um.
Bom, essa é a dica de hoje! Espero ter eslarecido bem! ^^
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