Um mundo para a história ou uma história para o mundo?
- katherinehavegreen
- 13 de mar. de 2016
- 6 min de leitura
Hoje eu vou falar de algo que pode confundir bastante na hora de começar a bolar uma história.
Na hora de planejar, eu devo começar pelo mundo ou pela história?
Como eu disse antes, aqui eu vou focar principalmente num tema que me é muito familiar, e portanto um sobre o qual posso falar com tranquilidade: a fantasia.
Num primeiro momento, só o que posso dizer é que, na minha opinião:
- Se você procura uma história no estilo mangá ou light novel, o melhor seria criar UM MUNDO PARA A HISTÓRIA; e
- Se você procura uma história para um livro, o melhor seria UMA HISTÓRIA PARA O MUNDO.
Deixem-me explicar.
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Para começar, vou definir alguns conceitos que vão me ajudar na explicação.
O primeiro vai ser o ENREDO. Nesse post, vou utilizar esse termo como uma designação para o 'núcleo principal da história' - ou seja, o grupo de protagonistas, secundários de maior importância e o enredo principal da história, incluindo objetivo, inimigo, etc.
O segundo será o MUNDO, que designa o conjunto de lugares, povos, fauna e flora de seu mundo, além das regras naturais que o regem e qualquer outro elemento fundamental para seu contexto.
E, para terminar, vou designar as FORÇAS MAIORES como sendo os elementos que compõe o governo, entidades governamentais ou qualquer coisa semelhante que sirva para atribuir um aspecto de sociedade e interferir para o bem ou para o mal proporcionando limitações legais aos personagens.
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Para explicar meu ponto de vista, vou usar como modelo uma história cíclica - ou seja, uma história movida pelo contexto, no qual a parte narrada é apenas uma de um ciclo que se repete. Por exemplo, uma história de mitologia (onde o bem está constantemente lutando contra o mal) ou um mangá de aventura (onde nós estamos cansados de ver eles avançando para uma nova cidade ou ilha, encontrando novos inimigos, lutando para superá-los e então novamente indo para um novo lugar).
O que me convenceu sobre esse padrão de planejamento é bem simples, na verdade: quando você escreve um livro com enredo fechado, mesmo que seja uma história cíclica, a quantidade de livros longos que você pode escrever é bem mais limitada do que uma história ao estilo mangá - ou seja, em pequenos volumes. Por isso, mesmo que você tente manter o mesmo 'comprimento' da história, se trabalha com volumes mais curtos - e, portanto, em maior quantidade - acaba inconscientemente tornando a história mais fluida, e consequentemente mais ágil. Quando se trabalha com livros mais longos, tende-se a aprofundar mais. Quanto mais arcos, mais de seu mundo aparece, o que faz com que você tenha sempre que trazer uma coisa nova, para que sua história não se torne entediante.
Mas isso não torna uma história melhor ou pior. Só o que você precisa é saber aproveitar da melhor forma possível o tempo de planejamento, que vai ajudar a guiar melhor a sua história dali para frente.
Mas como fazer isso?
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Se você está escrevendo um livro longo, o melhor modelo é a história para o mundo.
Isso significa que você vai criar primeiro seu mundo, e depois o enredo principal. Nesse caso, as forças maiores provavelmente vão atuar junto com o mundo, como uma parte importante e quase imutável da realidade que você está prestes a criar. Nesse contexto, as formas governamentais vão aparecer bastante no papel de contexto para o mundo, participando das rixas e guerras que transformaram a sociedade no que é hoje.
Nesse tipo de história, você deve trabalhar bastante os detalhes de seu mundo. Que tipo de fauna ele vai ter? Que tipo de flora? Fenômenos naturais? Faça o possível e o impossível para transmitir ao mundo a opinião que você quer que ele passe. Quer fazê-lo bonito? Assustador? Emocionante? Cada elemento deve contribuir para isso. O meu mundo é voltado para a beleza. Para esse efeito, trabalhei bastante nas descrições das sensações, como visão e tato. Quando a lua está nos picos de suas fases, criei um fenômeno natural no qual a floresta inteira se ilumina em ciano, e belos assobios do vento e das aves fazem um plano sonoro encantador. Para aumentar esse efeito, criei as Aves Trimorfas - as três espécies de aves mais intrigantes de meu universo, que caracterizam a fauna da Velha Floresta.
Quando se trata do enredo desse tipo de história, a melhor forma de conseguir a empatia dos leitores - um aspecto vital quando se trata de uma história movida pelos sentimentos ou a emoção dos personagens - é pela variedade de cenas em que os personagens aparecem. Situações comuns, situações descompromissadas, situações banais, situações preocupantes, tensas, assustadoras. Situações intensas e superficiais. Faça com que eles se relacionem bastante entre si. Dessa forma, o leitor vai responder como se tivesse sido apresentado ao personagem como um todo, e assim vai sentir a história de uma forma mais pessoal. Seus personagens ficarão mais realistas para quem lê, e isso pode ajudar o leitor a imergir no seu mundo com mais profundidade, tornando-o um mundo aparentemente mais realista por conseguinte. Encontrar ou posicionar um personagem bem expressivo - mesmo que de maneira sutil ou que passe despercebida à primeira vista - é uma boa forma de fazer isso, colocando-o como um guia do que o leitor deve sentir ao ler. Ele não está vendo a imagem, mas se houver alguém que sempre fale de coisas ou faça comentários que se assemelham com algo que ele diria, ele vai instintivamente começar a utilizar esse personagem como um guia autodesignado para entender melhor o que está acontecendo. Esse seria um bom padrão para o protagonista.
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No caso de uma saga de livros curtos ou algo no modelo de uma light novel, um bom caminho seria um mundo para a história.
Quanto mais arcos distintos você imagina, melhor ainda seguir por esse padrão. Nesse tipo de história, a melhor coisa seria planejar um enredo não simples, mas intenso e de aparência superficial. Isso se dá ao fato de que, escrevendo dessa forma, o leitor vai acabar naturalmente se apegando aos personagens pela exposição - uma longa história de convivência trás uma relação mais profunda. Mas como a história assim tende a ser mais ágil do que uma história longa, o melhor a se fazer seria começar com personagens intensos, para que o leitor possa rapidamente se apegar a eles - no começo, não há nenhum problema em começar com personagens superficiais. Afinal de contas, conforme a história avançar, você terá mais tempo para aprofundá-los, dando ao leitor uma sensação de que ele está se tornando mais próximo da história de maneira gradual. Se apegar a alguém rapidamente pode fazer com que seja fácil desapegar, mas se um personagem te cativa de cara e você começa a simpatizar com ele cada vez mais ao longo da história, você terá criado um laço difícil de quebrar, que só tende a ficar cada vez mais profundo - e, portanto, resistente.
Quem lê mangás ou assiste animes deve entender a sensação. Um bom exemplo de personagem inicial intenso seria Fairy Tail, onde Natsu claramente cativou todos os espectadores logo de cara (<3), enquanto em One Piece é difícil não notar o quanto você se apaixona mais pelos Mugiwaras a cada arco (e, é claro, por todos os outros <3 Afinal, Ace, Sabo e Trafalgar são personagens difíceis de bater <3)
Nesse tipo de história, as Forças Maiores são um pouco mais mutáveis e voláteis do que nos livros longos. Aqui, elas tendem a atuar mais como antagonistas do que como um contexto do mundo, já que o cenário da história varia demais para dar a eles um aspecto permanente, ao mesmo tempo em que torna difícil os personagens terem um inimigo pré-estabelecido em cada esquina (afinal, governos são inimigos extremamente práticos, já que tentam te prender e executar a qualquer menção de quebrar uma lei, por menor que seja).
Já os mundos são aspectos secundários, nesse caso, que devem ser replanejados a cada arco de história, acompanhando o estilo que você procura para o enredo num futuro próximo.
Nesse estilo de planejamento, porém, você deve tomar cuidado com um detalhe: se você criar um personagem que aparece muito ao longo da história, será difícil o leitor não simpatizar com ele, mas forçar aquele que lê a conviver com alguém de quem não gosta por um longo período pode se tornar exaustivo. Nem todos vão gostar de todos os personagens, mas esforce-se para que o saldo seja sempre positivo.
Além disso, procure trazer sempre um aspecto seu para o seu mundo, como uma assinatura. Tenha em mente pelo menos o conjunto-base de seu mundo, como o que é ou não é possível, para não correr o risco de se perder no meio da história.
Esse foi o post de hoje. Espero ter ajudado!
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